10 passos para uma transição de carreira saudável como desenvolvedor de software

Em um cenário não tão favorável no Brasil com relação a empregos em diversas carreiras, o mercado de trabalho para desenvolvedores de software está bastante aquecido, com oportunidades presenciais e remotas bem interessantes. É uma carreira muito boa para quem deseja trabalhar no exterior, remotamente, como freelancer etc.

Por conta disso - entre outros fatores - muitos profissionais têm desejado fazer essa transição de carreira e acabam não sabendo direito por onde (ou como) começar. Passei por esse processo em 2020, aprendi várias lições que foram super importantes e neste post vou dividir com vocês as que foram mais importantes para mim.

Desejo ajudar quem estiver pensando em fazer essa grande transição (sim, é bem grande mesmo!) a conseguir mudar de carreira de uma forma um pouco mais leve e saudável. Mas antes, um aviso: não se engane. Dá bastante trabalho e precisa de muita dedicação e disciplina, okay?

Os primeiros 5 passos são voltados para a tomada de decisão, ou seja, descobrir se vale mesmo a pena para você passar por esse processo todo. Depois, vamos focar na fase de transição propriamente dita.

#1. Estude o mercado

Estudar o mercado é o primeiro passo para iniciar qualquer transição de carreira. Como não é um processo necessariamente rápido, é preciso entender como funciona o mercado, como são os processos seletivos, quais são as tecnologias mais utilizadas.

Vai facilitar um pouco mais a sua vida já saber, por exemplo, quais são as possíveis frentes de trabalho: frontend, backend, full-stack, mobile, devops, cloud etc. Com a crescente evolução da área, fica cada vez mais complexo até descrever por completo todas as frentes aqui. Mas não se preocupe, não é para escolher agora! Lembre-se que esse conhecimento é bom para a vida toda na área de tecnologia.

É legal tentar ter uma base também com relação aos salários-base da carreira, principalmente para vagas juniores. Com isso, você vai conseguir entender um pouco mais qual será o real impacto da transição na sua vida financeira e se faz sentido a curto, médio ou longo prazo.

Por último, é bom saber logo de cara o que será esperado de você em uma posição junior na carreira. Veja algumas postagens de vagas e reflita um pouco: o que eu preciso saber para conseguir essa vaga? Ah, e não "pire" nas postagens de vagas junior que exigem 2-3 anos de experiência! Acredito que as empresas estejam entendendo cada vez mais o valor de uma pessoa junior no time e logo esses requisitos devem acabar :)

#2. Converse com pessoas que já atuam no mercado

Esse ponto é essencial antes mesmo de começar a estudar. Tente conversar com alguém que já trabalhe como desenvolvedor(a) e pergunte como é o seu dia a dia. Algumas perguntas-chave:

• Como é sua rotina diária?
• Quais são os principais desafios?
• Trabalha remoto ou presencial? Qual das duas opções acha mais interessante e porquê?
• Como é começar na área e o que vão esperar de mim?
• Tem pessoas juniores no seu time? Se sim, o que era esperado delas no começo dentro da sua empresa?

No melhor dos cenários, você ganhará uma pessoa que estará ali para te ajudar quando puder e que pode acompanhar seus primeiros passos na carreira. Se você conseguir uma pessoa assim, saiba que o valor disso é inestimável!

#3. Converse com pessoas que já passaram ou que estejam passando por essa transição

Pode parecer praxe dizer isso, mas conversar com pessoas que trilharam a mesma jornada que você está prestes a trilhar é muito bom! Como no item anterior, essas pessoas podem se tornar suas parceiras de aprendizado e jornada, dando aquele “gás” quando necessário e sobretudo te ajudando quando você "travar" em algo.

Inclusive, coloquei esse tópico separado de propósito para que não passe despercebido por ninguém! Se quiser, me manda uma mensagem e podemos bater esse papo também!  :)

#4. Comece com algo pequeno

Vendo esse texto, você pode começar a pensar "nossa, mas e se eu fizer tudo isso e não gostar ou não for para mim?". Calma!

Uma coisa importante é começar com algo pequeno. Eu recomendo começar com alguns vídeos no YouTube sobre lógica de programação, entender um pouco mais sobre como funcionam os famosos algoritmos e praticar. Isso vai te dar uma base muito boa e acabará ajudando a descobrir se você vai gostar de se aprofundar ainda mais.

Acredito que quase todo mundo que programa começou assim, e fazer o meu primeiro "Hello World" foi uma sensação muito boa! Espero que seja para você também! Se pegar gosto, vale encarar um curso rápido de HTML + CSS + JavaScript. Isso vai te dar uma noção melhor de como criar a sua primeira página e também de como as coisas se interligam.

#5. Tomada de decisão

E aí, curtiu as coisas que aprendeu? Acredita que essa transição fará sentido para você no médio e longo prazo? Está pronto para sempre estudar e se atualizar?

Então chegou a hora de tomar a decisão. A partir daqui tenho algumas dicas para quem tomou a decisão e realmente vai seguir com a transição de carreira. Vamos nessa?

#6. Prepare-se psicologicamente para a fase de transição

Essa aqui é a parte mais importante de todas: a sua cabeça. Você está embarcando numa transição de carreira, para um assunto que pode ou não ser mais natural para você. É preciso, necessário, super importante alinhar expectativas e firmar compromissos consigo mesmo(a).

Algumas coisas que eu alinhei comigo mesmo em relação a expectativas e que me ajudaram nessa jornada:

• Não vai ser fácil, então estou preparado para encarar os barrancos
• Vou ficar empacado várias vezes tentando resolver algo, mas tudo é possível
• Vou precisar trabalhar durante o dia e estudar à noite? Então preciso ter foco e disciplina para fazer valer a pena
• Vou precisar pedir ajuda quando possível e não simplesmente desistir
• Eu sei que é uma longa jornada, mas acredito na minha decisão e capacidade de fazer acontecer
• Nada acontece do dia para a noite, estou preparado para isso
• Minha rotina de estudos é meu compromisso comigo mesmo e com o meu futuro, por isso ela é super importante para mim

Não vou me alongar muito em relação a tudo isso, mas acho que deu para entender, certo?

Outra coisa que é importante aqui: você já tem experiência em outras áreas, sabe argumentar e fazer acontecer com o que trabalha hoje; mas, quando acontecer a transição, você provavelmente será a pessoa mais junior (tecnicamente) do time.
E isso leva um tempo até acostumar. Então esteja preparado para isso também!

#7. Comece a estudar pra valer!

Agora é a hora de estabelecer uma rotina de estudos e procurar um curso legal para fazer. Essa parte de rotina de estudos é muito particular de cada pessoa: para mim o que funcionou foi estudar toda segunda, quarta e sexta das 19h às 22h30 ou 23h. Já para a minha esposa o que funcionou foi acordar todos os dias cedo e estudar no “gás” da manhã (ou seja, das 05h às 08h). Nem todo mundo funciona bem no mesmo horário, então se respeite e fique atento a isso também.

#8. O descanso é essencial

Não adianta querer ir desesperadamente atrás de aprender tudo em pouco tempo. O descanso vai te ajudar muito a fazer essa transição de maneira saudável, corpo e mente.

Às vezes eu me empolgava durante o final de semana, mas é fundamental que você reserve um tempo para descansar, ver amigos, família e tirar a cabeça dos estresses do dia a dia. Os finais de semana acabam sendo as melhores ocasiões para isso.

#9. Apoio vindo de quem te cerca

Já avise a quem seja necessário que esses períodos serão dedicados ao investimento que você está fazendo em si mesmo, na sua mudança de carreira, e que o seu apoio em relação a isso será muito importante para você.

Acredite: quando você estiver estudando, vão chover convites para várias coisas bem no horário em que você deveria estudar. E por isso ter foco e o seu objetivo claro é tão importante: você vai conseguir dizer não quando for necessário!

#10. O curso

Existem vários tipos de cursos disponíveis hoje em dia. O ideal para você vai depender do seu perfil de estudo.

Se você gosta de aulas ao vivo ou presenciais, olha só:

Há cursos mais curtos como Bootcamps (remotos e presenciais) onde você terá aulas ao vivo e poderá interagir mais facilmente com outros alunos (pessoas que podem estar passando pelo mesmo momento que você, inclusive). Esses cursos duram, em média, de 2 meses (intensivo integral) a 6 meses (meio período ou 3x por semana).

$$$ - Esses cursos tendem a exigir um investimento financeiro maior, o que pode não ser possível na sua situação atual, mas a maioria deles conta com programas de bolsas em parceria com grandes empresas brasileiras. Caso não haja nenhum programa de bolsas aberto e você queira muito fazer um desses, a Revelo Up pode te ajudar!

Também, caso seja possível para você e tenha tempo disponível para isso, vale estudar a possibilidade de um curso técnico ou faculdade voltada para o desenvolvimento de software! Esses cursos, como Análise e Desenvolvimento de Sistemas ou Ciência da Computação, estão disponíveis em diversas faculdades, universidades e também no Senac.

Já se você é mais autodidata e consegue aprender bem por si só:

Há vários cursos completos no YouTube, Alura, Udemy e por aí vai. É só buscar pelo que você gostou mais entre todas as conversas que teve nos primeiros passos e colocar a mão na massa! Nesses cursos você vai no seu ritmo, mas cuidado! A constância nos estudos e o seu comprometimento com a sua agenda serão fundamentais para ter sucesso por esse caminho.

$$ - esses cursos tendem a ser mais baratos, mas pode ser um pouco difícil resolver alguns problemas mais específicos que você possa ter na sua máquina. Caso isso aconteça, peça ajuda e com certeza alguém vai te ajudar!

BÔNUS: Dicas práticas

Não só copie e cole código

É tentador só ver as aulas, copiar e colar o código e pronto, vai estar tudo funcionando. Mas sugiro que não faça isso. Procure entender o que está realmente acontecendo, tome notas e escreva o seu código de verdade! Comece desde cedo com isso para que possa resolver seus próprios problemas e escrever código se tornará cada vez mais fácil, rápido e prazeroso.

Aprenda a buscar respostas no Google

Essa é uma habilidade que leva bastante tempo para aperfeiçoar, mas no geral alguém no mundo já passou pelo problema que você está tendo nesse momento no seu código. Saber como procurar pela solução será fundamental na sua carreira como dev!

Monte seu portfólio

A melhor forma de uma pessoa junior mostrar o que é capaz de fazer na carreira de desenvolvimento de software é com um portfólio. Faça projetos variados e que mostrem a sua capacidade de desenvolver diferentes ferramentas/apps/páginas. Eles serão a sua vitrine para recrutadores e te darão experiência para resolver problemas um pouco mais complexos. Use e abuse de boas práticas de código, pegue algumas APIs públicas e faça apps completos, desenvolva sua própria API, enfim, o céu é o limite aqui!

Sem preciosismos, por favor!

Isso é uma coisa que eu aprendi ouvindo de pessoas muito mais experientes que eu, como o Rafael Timbó, CTO da Revelo:

"Se você está entrando na área, não é a hora de ficar escolhendo com qual tecnologia você quer trabalhar e o que você quer fazer. É hora de colocar a mão na massa onde for possível e tentar absorver o máximo que der. Depois da fase de aprendizado, com certeza você terá o espaço para migrar para a tecnologia de interesse ou frente preferida e se especializar nisso, caso seja a sua vontade."

Segui esse conselho e, depois de meses aprendendo Kotlin + Android (além de ter passado antes por cursos de HTML, CSS, JavaScript, Node e React), estudei Flutter e me tornei um desenvolvedor mobile na Revelo mesmo!

TL;DR

Se você pensa em fazer uma transição de carreira, estude bastante o mercado e suas tecnologias. Converse com o máximo de pessoas que conseguir para entender como é ser uma pessoa desenvolvedora de software. Comece pequeno, faça um curso rápido para ver se gosta ou não. Tome a decisão e faça um compromisso consigo de que irá até o fim. Alinhe bem suas expectativas sobre o processo de transição, se prepare mentalmente para o que está por vir. Peça ajuda quando precisar, consiga o apoio de quem é importante para você. Estude, estude, estude. Monte seu portfólio e foque em começar o quanto antes, pois a experiência adquirida no dia a dia é muito maior do que a experiência adquirida com cursos.

É isso! Estou sempre disponível para conversar sobre transição para a carreira de desenvolvimento, então se precisar pode me chamar, combinado?

Espero que tenhamos muito mais pessoas mudando a sua vida para essa carreira maravilhosa que é o desenvolvimento de software no Brasil nos próximos anos! Por último, fico aqui na torcida que esse texto tenha conseguido te ajudar, pelo menos um pouquinho, nessa grande mudança!